Olhem, sei lá porquê, apetece-me escrever isto aqui... Não é que goste muito da sua mais conhecida intérprete (apesar de lhe reconhecer o mérito artístico), mas gosto desta música... Povo que lavas no rio, Que talhas com teu machado As tábuas do meu caixão, Pode haver quem te defenda, Quem compre o teu chão sagrado, Mas a tua vida não. Fui ter à mesa redonda, Beber em malga que esconda O beijo de mão em mão; Era o vinho que me deste Água pura, fruto agreste, Mas a tua vida não. Aromas de urze e de lama Dormi com eles na cama, Tive a mesma condição; Povo, povo, eu te pertenço, Deste-me alturas de incenso, Mas a tua vida não. Poema: Pedro Homem de Mello · Música: Joaquim Campos
De manhã de medo Que me achasses feia Acordei tremendo Deitada na areia Mas logo os teus olhos Disseram que não E o sol penetrou No meu coração Vi depois numa rocha uma cruz E o teu barco negro Dançava na luz Vi teu braço acenando Entre as velas já soltas Dizem as velhas da praia que não voltas São loucas! São loucas! Eu sei meu amor Que nem chegaste a partir Pois tudo, em meu redor Me diz que estás sempre comigo No vento que lança Areia nos vidros Na água que canta No fogo mortiço No calor do leito Nos bancos vazios Dentro do meu peito Estás sempre comigo David Mourão Ferreira